1970/1979

A década de setenta teve início com a atribuição de um Prémio Valmor situado no cruzamento entre a Avenida dos Estados Unidos da América n.º 53-53G e a Rua Coronel Bento Roma n.º 12A-12E. Este edifício de utilização mista (61),

cuja promotora foi a Sociedade Construtora Fernando Pires Coelho Lda., contempla nos pisos térreos as zonas destinadas ao comércio, e nos pisos superiores toda a habitação.
Relativamente à escolha deste prémio muito se tem especulado, ao referir-se que a sua atribuição se destinou mais a prestar homenagem à carreira do arquitecto autor, Leonardo Rey Colaço de Castro Freire, que pouco tempo depois faleceria, e não tanto a premiar especificamente a obra.
No ano de 1971 foi atribuído um dos Prémios mais polémicos de sempre. Propriedade de Nuno Franco de Oliveira e autoria dos Arqt.ºs Nuno Teotónio Pereira e João Braula Reis, ergueu-se na Rua Braancamp n.º 9 o Edifício “Franjinhas” (62),

assim denominado pelo aspecto resultante do esquema adoptado como protecção solar das janelas. Na altura, o júri justificou a sua escolha pela «posição corajosamente polémica que o edifício assume no panorama da edificação urbana», considerando todo o projecto de uma extrema qualidade.
Tal como no edifício acima referido, existe uma utilização mista, onde se procura recuperar a galeria de lojas aberta à Rua, sendo que, em relação ao anterior, difere no espaço destinado à habitação, que aqui dá lugar a escritórios.
Dadas as polémicas despertadas em torno do Edifício “Franjinhas”, nos anos de 1972 a 1974 não foram atribuídos quaisquer Prémios. Neste período levantou-se pela primeira vez a questão da datação das obras, problema que se foi complicando com a progressiva burocratização dos serviços. As inúmeras questões levantadas, que punham em causa o próprio Regulamento dos Prémios, fizeram com que se deteriorassem as relações entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Sindicato dos Arquitectos, «prejudicando a política de valorização da arquitectura citadina que constitui o objecto do referido prémio».
Em 1975 voltou-se à atribuição do Prémio, curiosamente, a duas obras: Sede, Jardins e Museu da Fundação Calouste Gulbenkian (63)

e Igreja do Sagrado Coração de Jesus (64).

Em relação à primeira, situada na Av. de Berna, propriedade da Fundação Calouste Gulbenkian, destaca-se uma interligação entre jardins e espaços arquitectónicos, notável num sentido de organicidade. O conjunto, concebido pelos Arqt.ºs Ruy Jervis Athouguia, Alberto Pessoa, Pedro Cid, Gonçalo Ribeiro Teles e António Barreto, foi pensado como um todo organizado, onde os serviços se interpretam com naturalidade e onde o público circula livremente sem sectores rígidos delimitados. Pela primeira vez era atribuído o Prémio, não só a um edifício isolado, mas também a todo um conjunto que incluía, além do edificado, todo o espaço exterior de enorme valor paisagístico.
A segunda obra notavelmente reconhecida, da autoria dos Arqt.ºs Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, pertencente ao Patriarcado de Lisboa, destaca-se pela preocupação relacionada com o tratamento dos espaços de circulação. Assim sendo, o percurso que liga a Rua Camilo Castelo Branco a uma outra bastante desnivelada da anterior, integra-se perfeitamente com os diversos espaços do próprio edifício. A Igreja do Sagrado Coração de Jesus mostra a vontade de se relacionar com uma malha urbana que, aqui se casa, com as preocupações da nova Arquitectura religiosa. Segundo os autores: “os corpos do conjunto, igreja propriamente dita e outros serviços, tinham de realizar a amarração à cidade que tínhamos à volta”.
Em 1976 e 1977 houve um novo interregno na atribuição dos Prémios.
O ano de 1978 ficou marcado pela escolha de três edifícios: um Prémio Valmor distinguindo um conjunto habitacional (65),

situado na Rua Maria Veleda n.º 2-4 e duas Menções Honrosas.
No que se refere ao edifício premiado, cuja promotora foi a Sociedade Geral de Empreitadas, caracteriza-se por uma volumetria monótona, em que as atenções se voltam para a sobrevalorização de aspectos relativos ao bom equipamento técnico dos apartamentos, esquecendo-se as preocupações inerentes ao tratamento dos espaços que permitem o enriquecimento e a qualidade. A pobreza de todo o edificado, da autoria do Arqt.º Fernando Silva, poderá dever-se a uma atitude passiva perante a envolvente construída, uniformizando-se e perdendo-se naquela.
Quanto às duas Menções Honrosas atribuídas regista-se, tanto no prédio de escritórios (67)

do Arqt.º Fernando Eugénio Ressano Garcia, como na moradia unifamiliar (66)

do Arqt.º Fernão Lopes Simões de Carvalho, a mesma simplicidade formal e o mesmo traço arquitectónico que possui o principal premiado deste ano.
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